COVID-19 X BUSINESS

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Se você é empreendedor, você provavelmente acaba de jogar seu business plan no lixo. Em 2020, o mundo foi atropelado pelo que vai ser conhecido como o “cisne negro” da nossa época, e a economia, arrastada para uma recessão. Este artigo é uma reflexão sobre o efeito do COVID-19 em negócios de tecnologia, usando nossa própria experiência na Ingresse como base.

As 3 Perguntas
Como negócio, precisamos responder três perguntas:
(1) por quanto tempo vamos ter baixa atividade econômica,
(2) como vai ser a volta ao “normal” e
(3) qual a intensidade da recessão?

1- Quando acaba esse episódio de Black Mirror?

Existe certo consenso de que vamos atingir o pico da epidemia na segunda semana de Abril. Em estudo, o J.P. Morgan usa o modelo SIR para computar o avanço em número de infectados na população. É importante ressaltar que o Brasil adotou um critério que subestima o número real de infectados (por exemplo, é necessário a requisição do teste por um agente de saúde que só é feita quando o doente apresenta um conjunto de sintomas). Porém, desde que o critério escolhido seja mantido, é possível entender o comportamento da curva.

Segundo os estudos:

Os números variam de 9k a 68k infectados com estimativa de 23.5k segundo o J.P. Morgan com foco em São Paulo e Rio. Baseado na curva de crescimento em São Paulo (que lembra a da província de Hubei, China), esperamos um pico em 15 de Abril (Análise COVID-19 – Loft, Marmerola; Initial Modeling of Brazil Cases; Evolution in LatAm And Other Considerations, J.P. Morgan)

São Paulo será a cidade mais afetada, mas apresenta um crescimento marginalmente menor que o Brasil como um todo (~0.34 vs ~0.37). Além disso, São Paulo nos últimos 14 dias também tem um crescimento marginalmente menor que São Paulo ajustado em todo o período. Por fim, o início do outbreak na Itália teve um crescimento muito maior que o ajuste dos últimos 14 dias (~0.16 vs. ~0.40). Este é o comportamento que precisamos evitar no Brasil.

O J.P. estima que se mantivermos o número de infectados abaixo de 30k, o impacto econômico será controlado. Temos a nosso favor que, neste critério, a America Latina tem progredido de forma mais lenta que a Itália provavelmente porque: (1) o Brasil tem uma densidade populacional menor do que China e Itália (318 pessoas/km², em Hubei, 206 pessoas/km², na Itália e apenas 25, no Brasil); (2) a idade média brasileira também é inferior a destes outros países: nossa idade média é 33 comparada a 46, na Itália. Por último, (3) São Paulo respondeu rapidamente à epidemia.

Se, no Brasil, atingirmos o pico em Abril e estimarmos uma bell curve, teremos uma estabilização para a maioria dos negócios até Junho. A China, por exemplo, teve seu pico em Janeiro com reabertura de seus cinemas e lojas em Março. A questão chave para os negócios é a possibilidade da ocorrência de outras “ondas” que poderiam gerar novas recessões. A velocidade de retorno também difere, dependendo do seu segmento de atuação. Atividades relacionadas a viagens, turismo e eventos ao vivo devem ser as últimas a se recuperarem e as primeiras a sofrerem limitações no caso de novos surtos.

Empiricamente, todo os choques causados por epidemias foram em forma de “V” (SARS, 2003; H2N2, 1957; H3N2, 1968 e Gripe Espanhola, 1918 — amostras dos USA). Em outras palavras, vai doer, mas vai passar.

2- Um novo “normal”?
E se as coisas não voltarem ao normal?

…podemos imaginar um mundo onde, para entrar num avião, você talvez tenha que assinar algum serviço que monitore a localização do seu telefone [ . . .] haveria scanners de temperatura por toda parte [ . . .] casas noturnas [ . . .] pediriam prova de imunidade (MIT Tech Review)
Yuval Harari, o autor de Sapiens, alertou para tomarmos cuidado para que governos não se aproveitem da oportunidade para começar a monitorar de perto a população. Em seu artigo “The World After Coronavirus”, o autor lembra que as medidas “temporárias” que Israel adotou em 1948 em “estado de emergência” nunca foram abandonadas.

Porém, a maioria dos peritos acredita em um choque em “V” — ou seja, um impacto que quebra a tendência de crescimento econômico ao deslocar demanda, mas sem alterar seu coeficiente de crescimento.

3- Qual a intensidade da recessão?

Por fim, resta a pergunta da intensidade da recessão. Embora a maioria da economia seja negativamente impactada, alguns businesses colherão benefícios em adoção online. A penetração online na AmLat ainda é baixa e, uma vez que as pessoas perceberem que é mais fácil fazer compras online do que ir ao mercado, there’s no going back.

O surto de SARS de 2002–2003 foi um grande acelerador da adoção de e-commerce na China e da inflexão do AliBaBa (RoundTable Brazil, BCG Henderson Institute). Ainda temos muito espaço para crescer no mundo digital: apenas 5-15% do comércio é online; no Brasil, apenas 10% dos ingressos são vendidos pela Internet. A crise vai ser uma espécie de “máquina do tempo” empurrando de uma vez múltiplas indústrias para a transformação digital.

Empreendedores

Considere 4 frentes em resposta ao COVID:

(1) Saúde do Time,

(2) Monitoramento do Negócio,

(3) Adaptação e

(4) Proteção de caixa.

Conclusão

Excelentes empresas foram fundadas em momentos como esse, como por exemplo, AriBnB, Cloudfare, GitHub, Slack, Square, Stripe, Uber e WhatsApp. Este será um período muito rico em aprendizado. Vamos descobrir que muitas reuniões poderiam ter sido e-mails, que podemos ser mais enxutos; vamos ser forçados a olhar para dentro de casa e descobrir os reais benefícios de trabalhar no mesmo ambiente físico. Na Ingresse, em particular, acreditamos que o valor de eventos ao vivo ficará mais claro do que nunca. Como disse um dos nossos sócios investidores, “não podemos desperdiçar uma crise”.

Fonte: Gabriel Benarrós

Behavior Economist — Stanford University, Founding-CEO